30 de dezembro de 2008

Volver a mí


Me senti estatelada num chão de estrelas mortíferas. Um brilho eterno ultrapassando as barreiras da leveza do meu ser. Uma televisão pequenina na minha frente (passando Código da Vinci), um armário antigo do lado esquerdo, uma mesinha de mogno bem surradinha. Uma cama espaçosa com uns lençóis branquinhos e cheirosos. Acendo um cigarro e fico viajando na fumaça que sai da minha boca. Ele do meu lado, dormindo de costas pra mim. Bunda com bunda. Sem olhares nem tentações no momento. Depois de olhar demoradamente pro carpete sujo do quarto eu adormeci. Devo ter acordado uma hora depois (não tinha muita noção do tempo). Mal tinha feito com que minha consciência acordasse de vez e logo pensei: "O que eu tô fazendo aqui com esse cara que nem me olha?" Mas depois de dois milésimos de segundo, como se tivesse adivinhado a minha raiva e a minha vontade ele se virou, deu um beijo nas minhas costas e no meu pescoço, olhou pra mim, me chamou de branquela (finalmente), me abraçou bem forte e caiu no sono de novo. Tudo aquilo me tranquilizou e me enganou de uma maneira que não me restava nada a fazer senão dormir.
Acordei exatamente 04:45 da manhã com o braço doendo, sem abrir os olhos tentei adivinhar o porquê. Eu devia ter dormido com o peso do corpo em cima do braço ou talvez batido em algum lugar. Pra minha surpresa, meu braço estava inteirinho envolvido no braço dele e o espanto maior: mãos dadas. Será que eu fiquei a noite inteira assim? Será que ele acordou e ficou olhando pra mim por longos minutos e resolveu segurar minha mão pra me provar que ele realmente sente algo (indescritível e imensurável) por mim? Sei lá. Sei que meu braço tá doendo até agora, mas a dor não é física. É moral.

Mãos dadas? Não fode, gatinho.


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